Assim que comecei, eu treinei com levantadores olímpicos que me ensinaram a ter reverência pelo agachamento. Eles me ensinaram que este é o lugar onde a vida e a morte passam diante dos seus olhos, que este é o altar de levantamento de peso.
Mas quando cheguei a Gold´s em Venice na Califórnia, o rack de agachamento estava atravancado e colocado no fundo da academia, e ninguém usava. Claro, Arnold e Ed Corney usaram em Pumping Iron, mas isso foi mais para mostrar.
Quando eu comecei a agachar muito, as pessoas diziam que eu não deveria porque seria jogar fora o meu equilíbrio e simetria. Mesmo assim eu fiz de qualquer maneira.
Era tão cansativo que eu agachava somente duas vezes por mês. Era como se você estivesse tentando fazer algo sobre-humano. Para me preparar para isso, eu me levantava às 5:00 e mentalmente falava comigo mesmo como um incentivo e isso ajudava a tornar a cosia mais fáceis em minha mente. Nunca ficou mais fácil, é claro.
Era sempre brutal, até o nível que eu consegui alcançar, “Eu acho que eu senti o músculo rasgar do osso. Acho que devemos parar, Tony (Martinez).” E ele diz: “Você vai ficar bem. Esfregue-o um pouco e você vai ficar bem.” Mas eu era bom em me convencer de agachar, mesmo sabendo a dura realidade. ”
Eu colocava meus sapatos de levantamento de peso – Eu usava o Adidas modelo “Weight Lifting Shoes” com um salto maior que afunila até uma sola fina – e eles eram parte de minha experiência, física e psicologica. Quero dizer; você iria fazer patinação no gelo sem lâminas? Sapatos de treino eram isso pra mim: uma peça importante do quebra-cabeça que fez o meu treino a experiência que era.
Então eu colocova meus sapatos, pegava minhas coisas e dirigia de carro de Malibu para Venice em meu Corvette 1960.
Conforme eu puxava para fora da garagem o ronco gutural do motor poderoso que iria misturar em minha mente como um liquidificador e tornar-se parte da minha preparação enquanto eu dirigia. Eu propositadamente dirigia pelo oceano para assistir as ondas quebrarem poderosamente contra as rochas.
Se eu pensasse muito sobre o treino, eu ia ficar com as palmas das mãos suadas no caminho para a academia e não conseguia segurar o volante. Olhar o mar ajudava a distrair e a me preparar.
Eu chegava na Golds em Venice e não era cheio como é hoje. Havia apenas alguns de nós lá, especialmente tão cedo. E, claro, Tony estaria lá me esperando, pronto para o treino.
Íamos para o rack de agachamento e lembro-me sempre de me alongar na frente do rack. Eu tomaria a posição de alongamento como quem salta um obstáculo, com uma perna a frente e outra pra trás no chão – uma perna dobrada, a outro em linha reta – em seguida, abaixava o nariz para o meu joelho.
Enquanto eu estendia eu tentava aliviar a minha mente, me convencer que eu estava lá para me divertir, fazer apenas uma ou duas séries e dizer que estava bom, que tinha acabado. Às vezes a gente tinha até cobrir o espelho com o jornal, porque eu não queria me ver agachar. Eu só queria sentir e experimentar a dor dentro do meu próprio ser.
Claro que neste momento pré-treino não era apenas o alongamento, eu também estava me preparando emocionalmente e fisicamente para o que estava por vir.
Eu tocava os pesos, o rack, a barra, e eu tinha uma reverência quase religiosa por eles. Eu gostava de usar uma barra velha desgastada, empenada levemente apenas o suficiente para que ela não rolasse dos meus ombros quando eu estava ereto.
Eu tinha marcado com uma anilha, dei uma porra com ela no meio da barra para que eu pudesse me lembrar qual era, e eu sempre enrolava uma toalha em torno da barra antes de começar minhas séries.
Feito o alongamento, eu colocava meu cinto de levantamento – um pouco frouxo para que eu pudesse respirar – então Tony e eu aquecíamos bem devagar. Uma série de 135kg para 10 repetições fáceis. Adicionava outra anilha de 20kg, numa boa.
Escutávamos Motown e começávamos a progredir com o peso. Agora 315kg. Eu deixava espaço entre as anilhas de propósito para que, quando subisse no agachamento, com uma repetição muito rápida e agressiva, as placas iriam bater uma contra as outras e fazer um barulho de sino.
O som era muito importante para mim. A música, o som de Motown e os pratos tilintando uns contra os outros – grandes placas de ferro, grossas, de 20 quilos. Esse som me ajudava no meu movimento e a contar o tempo das repetições.
Eu gostava de subir rapidamente com tal velocidade que a barra iria dobrar sobre meus ombros e as anilhas iriam se arrebentar juntas, e eu apreciava essa sensação! Eu faria uma série rápida de 20 repetições com 160kg com todos os meus sentidos aguçados.
Mais uma anilha de 20 de cada lado e Tony iria colocar as presilhas, sabendo o espaço exato para obter aquele som. Tony contaria as minhas reps. . . 10. . . 20. . . 30 – Vamos ver o quão longe podemos ir!
Quando eu chegava ao ponto em que eu não podia fazer mais repetições, Tony diria algo como: “Você DOMINA este exercício!” ou “Vá lá e detona!” Ele evocava seis, oito, 10, mais 20 repetições para fora de mim.
Então eu literalmente caía no rack de agachamento e jing! As placas abalariam e eu caia no chão. Eu pegava o cinto largo e de repente eu estava com falta de ar e eu não conseguia respirar. Parecia que alguém estava enfiando facas em minhas pernas, e meu ritmo cardíaco atravessava o telhado explodindo alto. Eu não podia ver, eu estava suando em bicas, mas, eventualmente, eu voltaria.
Às vezes, eu levava 20 minutos, mas eu sempre voltava. Quando eu conseguia ver corretamente novamente eu ia lá fora e respirava um pouco de ar fresco, em seguida, voltava e dizia: “Ok, Tony, mais uma série!” E lá iríamos nós novamente.
Naqueles dias, quando eu deixava o ginásio eu estava lá em cima. Eu pensava “eu vivi isso. Passei por isso. Posso fazer qualquer coisa na vida.” Eu mantinha meu cinto frouxo e caminhava até o carro, pensando na vitória. Eu era um com o meu espírito e com Deus.
Eu treinava pernas toda semana, mas os agachamentos eram tão cansativo que eu não conseguia andar depois e fazer um outro exercício, era simplesmente fora de questão. Então eu agachava duas vezes por mês e fazia outros “acessórios” como movimentos de máquinas como extensões de perna, flexão de perna, e agachamento no hack em semanas alternadas.
Cadeira Extensora
De volta em meados dos anos 80 um cara chamado Magia, que vivia em um ônibus escolar amarelo atrás da Gold´s Gym, me fez um cinturão de levantamentos especial para me amarrar na velha máquina de extensão de pernas da Gold´s – o original Joe Gold tinha dito que Arnold , Draper, Zane, Corney e todos as figuras dos meus mentores tinham usado aquela máquina.
Eu machuquei meu braço – Eu rasguei o tendão do bíceps do osso – e, embora tenha sido reparado, pendurar-se na máquina de extensão de perna colocava um monte de estresse no meu braço. A velha máquina era apenas um assento sem apoio para costas e uma corrente de bicicleta ligado à pilha de pesos.
Era antiquado, mesmo naquela época, mas eu gostava, porque eu sentia as impressões digitais de Draper nele. Muita gente não tinha idéia de como usar a máquina, pois não tinha um encosto nela, mas eu sabia. Tudo o que eu tinha a fazer era olhar para aquela máquina e as minhas pernas cresciam.
Eu me trancava na máquina (usando o cinto que o Magia tinha feito), e prendia os meus pés sob a almofada. Eu aquecia com algum peso, como a metade de uma pilha para uma série de 10.
Então eu tinha um velho, curvado, batido pino torto que eu colocava por baixo de toda a pilha para segurar uma anilha de 50kg. O trabalho de Tony era ter certeza de que placa não caísse quando eu estava fazendo as minhas reps! Então eu ia começar: eu puxava esta pilha de pesos com a placa de 50 quilos com tanta força que eu pudesse jogar pelos ares, acelerando através de todo o movimento. Já que a máquina não tinha apoio para as costas, eu me inclinava para frente, me agarrava à parte de trás da máquina e neste momento eu estava quase paralelo ao chão! Então eu baixava a pilha e botava a placa de volta para o início, controlando sua descida enquanto eu me sentava novamente. Como um canivete. Repetição após repetição, eu sentia a tensão acumulando em meus músculos. E quando eu deixava cair o peso na parte inferior que ia saltar sobre as molas da máquina. Eu levantava novamente e minhas pernas iam se incendiar como fogo. A intensidade e a tensão foram indicativos de que o crescimento era iminente. Separação, clareza, distinção e qualidade – toda a insanidade que eu usava e que eu vivi seria iminente para meu crescimento e para ser freaky.
Eu faria 8-10 reps para as primeiras 5 séries, então talvez 2-5 reps para as próximas 5. Quando eu digo 8-10 ou 2-5, são repetições feitas sozinho, eu não estou contando as 15-20 reps forçadas – repetições de bebê, repetições parciais, negativas – que Tony me ajudava.
Eu levantava o apoio da máquina tão alto quanto eu podia para que meus quads fossem totalmente contraídos. Em seguida, Tony iria empurrar para baixo, em pulsos quase, no apoio da perna da máquina e eu iria resistir à sua pressão.
Ele empurrava para baixo repetidamente, então soltava, e eu gostava de trazer o apoio de volta o mais alto que pudesse. O peso iria lentamente ficando menor e mais baixo, porque eu estava ficando cansado, e, finalmente, cerca de 6 a 7 minutos mais tarde, a série estaria completa.
Era como uma longa e extendida série de repetições negativas com pequenos empurrões e puxões ao decorrer. E isso era apenas uma série.
Quando a série acabava eu estaria em extrema dor, me contorcendo ao redor. E era como uma operação para me tirar daquela máquina com alguns caras para me soltarem e arrancarem as correntes e correias fora. Então eu me levantava e agarrava a máquina e sentia faltar o ar.
Mas depois de um minuto ou dois, Tony iria olhar para mim e dizer: “Você está pronto? Vamos.” E ele me trancava de volta no lugar de novo e eu faria mais 6-10 séries…
Grande grande inspiração… vários treinos foram inspiradas em Intensidade ou Insanidade e no grande Tom Platz…
Esse é o espírito de treino, cenário sombrio onde a dor, a morte e o sangue convivem lado a lado.
GRANDE PLATZ!!
Platz não conhecia limites para a própria mente e corpo. A dor ou qualquer sensação por mais aterradora e difícil que fosse não conseguia parar ele. Um dos meus heróis.