O TREINO
O treino sempre foi o instrumento de modificação do corpo e da alma. Seja o treino de musculação, treino para o fisiculturismo (sim, é diferente!), treino para um concurso ou o treino para adentrar em uma empresa, órgão público ou instituição militar.
O treino é o instrumento para alcançar objetivos. Quantas vezes não nos perguntamos o que devemos fazer para alcançar determinada meta? O primeiro passo, com certeza, é o planejamento. Quando perguntado para Abraham Lincoln, grande estadista Norte americano, que se ele tivesse oito horas para derrubar uma árvore, o que ele faria, foi respondido: “Passaria seis horas afiando meu machado”.
O grande problema é que para o desinformado, para o leigo na academia, a maioria dos profissionais não tem tempo sequer para afiar uma faca de pão e executar um planejamento digno para o aluno. E não paro por aqui. Muitos atletas e entusiastas perdem tempo, alcançam platôs¹ ou entram em estado de Overtraining ² por falta de planejamento.
Seja por falta do planejamento na mudança do treino, seja por desconhecimento dos métodos, ou mesmo por excesso e falta de planejamento para o descanso necessário.
TIPOS DE TREINO
Por outro lado, é fato que o treino sobre o treino, a persistência e a dedicação trazem resultados sólidos. Um exemplo é o atleta Branch Warren, ganhador dos últimos dois “Arnold Classic´s”, evento promovido pelo ex-bodybuilder Arnold Schwarzenegger. Branch executa a mesma divisão de grupamentos musculares nos dias da semana desde o início de sua carreira. O Cascavel do Texas, como é conhecido, é um exemplo de superação e de constância. Tendo forjado seu físico com anos de insistência, mas isso não quer dizer que não variou seus métodos!
Hoje em dia a gama de treinos é muito vasta, encontramos diversos métodos e escolas de treinamento. Comecemos pelo princípio, e pela escola Weider, dos irmãos e fundadores da Federação Internacional de bodybuilding – IFBB, Ben Weider e Joe Weider. Mesma federação que os atletas de Brasília participam no fisiculturismo.
A escola Weider, que prega treinos de alto volume e diversos métodos de intensidade – estudados pelos dois irmãos canadenses – com base no empirismo dos culturistas, foi muito divulgada pelo então jovem Arnold Schwarzenegger, e pela Califórnia inteira na chamada “Era de Ouro” do fisiculturismo. As publicações em revistas como Muscle & Fitness, Flex e outras, geraram os métodos que hoje em dia ainda dominam o cenário da musculação mundial.
Porém, por que não tentar outros métodos? Outras escolas? Quais são elas? As fichas de musculação são confiáveis ou apenas um padrão rápido para prescrição em massa? Conhecer esses detalhes é crucial para o desenvolvimento das valências físicas e de um corpo harmonioso com massa magra e percentual baixo de gordura, que além de ser estético, torna-se saudável.
A MUDANÇA DA INDÚSTRIA
Resumindo a história, a década de 50 foi um marco na mudança dos paradigmas de treino e de biomecânica singular. Pouco antes na década de 30 surgiram as primeiras manufaturas de produtos de musculação e anilhas pela “York Barbell”, empresa de Bob Hoffman (até hoje podemos ver em algumas anilhas antigas o nome YORK) mas o verdadeiro “boom” da indústria denominada “fitness”, foi na década de 50, e trouxe consigo máquinas de musculação, aparelhos, juicers, publicações e mais publicações e um pandemônio de informações.
Bob Hoffman acreditava que o treino deveria ser para a performance, pois tinha plano de fundo o levantamento de peso, enquanto os irmãos Weider começaram a pregar o treino para o “shape”, ou seja, o desenvolvimento do físico. Isso não quer dizer que treinar e modelar o corpo não traga performance, mas dificilmente vemos por aí pessoas que procuram estética executar um Levantamento Terra, agachamento profundo ou outros exercícios oriundos dos levantamentos básicos ou olímpicos. O que considero um erro para construir uma boa base.
ESCOLAS DE TREINO
Continuando… com a construção do império Weider, uma potência foi sendo erguida, e dominando o cenário de treinamento, até que Arthur Jhones, grande inventor, trouxe consigo aparelhos modernos, mas não os aparelhos que vemos pelas academias de perfumaria, que ajustam seu peso, altura no banco com assentos mais macios que rosas silvestres. Jhones trouxe consigo equipamentos para o treinamento de alta intensidade! Seu “graviton” como vemos por aí não tirava seu peso, mas o ampliava! Desenvolveu o “pullover” Nautillus e uma linha de máquinas Nautillus que ainda podemos ver restantes e abandonadas (não por nós!) nas academias Brasília a fora.
Além dos aparelhos, o inventor da alta intensidade elaborou métodos, estudos e divulgou informações que quebravam o paradigma do momento – o treinamento de alto volume. Com treinos intensos, menos frequentes e intensidades altíssimas geralmente usadas nos equipamentos uma nova ordem no treinamento foi sendo seguida, culminando com Casey Viator, os grandes irmãos Mentzer e Dorian Yates, 6x Mister Olimpia (maior competição de fisiculturismo internacional).
Uma grande discussão em cima deste método é a probabilidade de lesões. Dorian teve inúmeras lesões nos seus treinamentos, mas fora seu método, sua intensidade era insuportável por nós humanos “normais”.
Podemos depreender disso que toda escola é utilizável. Dorian antes de iniciar seus treinos de alta intensidade era usuário dos métodos Weider, e não só isso. Outros inventores e métodos foram utilizados por diversos culturistas ao longo de suas carreiras. Vários treinadores influenciaram diversos Mr. Universos, Mr. Olympias como Schwarzenegger e sua turma.
Gênios incompreendidos, intensidades altíssimas, e exercícios singulares foram utilizados pelos grandes campeões. Podemos apenas citar, e detalhar posteriormente, grandes treinadores como Vince Gironda, Steve Michalik , e claro, os próprios atletas que desenvolveram grandes métodos de treino, e que considero mais importante, de acordo com suas necessidades, especificidades e particularidades.
INDIVIDUALIDADE NO TREINO
Por exemplo, meu descanso nos treinamentos pode ser maior que o seu. Explico: Digamos que eu trabalhe em uma obra o dia inteiro, e tenha que percorrer 10km de ida, e mais 10km de volta para casa. Deveria eu fazer aeróbios 3 vezes por semana?
Levantando pesos o dia inteiro no trabalho eu deveria utilizar um volume altíssimo de treino com grande intensidade? Provavelmente não. Agora, eu trabalho 6 horas em uma empresa sentado no escritório onde me desloco de carro, por volta de 10min, como deveria ser meu treinamento? Minha quantia de calorias ingerida e meu aeróbio? Utilizemos o bom senso.
Não se trata apenas de tipo corporal, tipo de fibras ou genética. Trata-se realmente de bom senso, autoconhecimento e planejamento de acordo com nossas necessidades naquele momento. Tento trazer uma nova visão e abordagem, por vezes não linear, de treinamento. Expandir horizontes e fugir dos padrões.
Seguir o treinamento de um amigo, ou o treinamento de uma revista ou um artigo pode ser nocivo. Treinamentos, dietas, suplementação são individuais!
A HISTÓRIA DO SÉRGIO OLIVA
Vejamos Sérgio Oliva, grande bodybuilder da era Arnold. O cubano trabalhava em uma fundição, mais ou menos 12 horas por dia, era massivo e apesar de ter começado seus treinamentos com o HIT, método de alta intensidade já falado, criado por Arthur Jhones, percebeu que seu treinamento deveria incluir pesos livres e não somente máquinas. Que com isso seu físico ficava mais potente.
Certa vez, influenciado por sua esposa, iniciou a dieta de um grande Mr. Olympia, simétrico, porém estreito, com linhas ectomorfas – linhas longilíneas e articulações pequenas -, chamado Frank Zane. A dieta consistia basicamente em peixes, legumes e carboidratos complexos. Podemos imaginar o desastre para um monstro massivo, que trabalhava o dia inteiro em uma fundição… Sérgio Oliva ficou fraco, pois tinha outro metabolismo e estilo de vida. Em suma foi um desastre para ele. Sérgio era levantador olímpico em Cuba. Imaginem a potência que podia empregar em seus treinamentos, mas com dieta fraca nada disso poderia ser alcançado.
ERRO E ACERTO
Percebemos que ao longo do tempo, os maiores campeões tiveram suas habilidades desenvolvidas por erro e acerto. Não há como acertar sempre. Estamos sempre em constância mudança. Mudanças metabólicas, mudanças de vida e mudanças de perspectivas e metas. O grande que considero é não se adaptar as mudanças. Não efetuar mudanças e principalmente não aceitar as mudanças. Podemos ter medo, medo de mudar de emprego, medo de perder massa magra em uma dieta ou mesmo medo de mudar o treinamento e deixar de ter resultados satisfatórios. Mas devemos e podemos correr riscos para que resultados expressivos ocorram.
Não falo de riscos de saúde, ou utilizações de dietas e treinamentos da moda. Vemos por aí um excesso de informação que pouco pode ser utilizada, e que é disseminada apenas para tirar de nós nosso rico dinheiro ganhado com o suor do nosso trabalho. Vemos isso na indústria dos suplementos, na indústria “fitness” e principalmente na mídia; que vende dietas e treinamentos milagrosos sem esforço e em pouco tempo. Acredito que nada vem sem esforço e sem constância, sem adaptação e sem inteligência no planejamento. Saibamos planejar melhor e procurar conhecer nosso corpo e os métodos que podem ser utilizados. Caso o leigo não saiba por onde começar que procure um profissional. Mas que não deixe de observar suas próprias limitações e conversar sobre isso para poder realizar adaptações.
CONCLUSÃO
Falamos aqui um pouco muito rápido e abreviado da história e do surgimento de alguns tipos de treinamentos, podemos nos aprofundar mais em outras edições, podemos falar também dos treinamentos atuais e dos treinadores “modernos”, alguns são bem antigos e muito bons. Ainda mais poderemos falar de quais métodos os tops bodybuilders da atualidade estão utilizando e quem são seus influenciadores. O que pode ser uma farsa para nosso treinamento e detalhadamente o que era utilizado antigamente que surtia resultado verdadeiro. O que foi abandonado? Existem focos de resistência?
O mundo do treinamento é tão vasto e ilimitado, por isso não devemos nos limitar. Não é produtivo. Aquele que para no tempo e não acompanha os avanços também não se desenvolve. Fica preso em seus conceitos amarrados e nas fichas de academia. Não critico a ficha de academia, mas critico a falta de planejamento e modificação do treinamento. A falta de compromisso com o treino e falta pelo menos do conhecimento de qual músculo está se trabalhando para poder se ter uma conexão “mente-músculo”.
DICA FINAL
Você é atleta, pois bem, reveja seus conceitos. Não consegue sozinho; pegue consultoria. Não sabe por onde começar; procure informação de qualidade. Converse com outros atletas e não seja fechado ao ponto de não discutir o que está fazendo ou não experimentar o que estão fazendo. Arnold teve inúmeros amigos para treinar em parceria que ajudaram a desenvolver seu físico de campeão.
Agora, você é leigo. Converse com o profissional, questione sobre métodos de treinamento. Faça suas avaliações, não só física, mas faça uma avaliação de como está sua rotina, sua vida e até mesmo seu aspecto emocional. Veja como está se sentindo no dia e se pode variar seu treino. Mude seu treino. Mude sua perspectiva e conceito a respeito do momento que você está na academia. Conheça o mínimo sobre seu corpo, e veja seus resultados aparecendo. Seja na melhora do seu condicionamento, da sua saúde, ou da sua estética.
Por Gabriel Ortiz
¹Platô: Estagnação ou estabilização dos ganhos de massa muscular.
²Overtraining: Ou “Síndrome do Overtraining” caracteriza-se por uma gama de sintomas físicos e até emocionais que surgem geralmente pelo excesso de treinamento e competições. Por vezes o que acontece mesmo com o entusiasta é o Undereating (pouca comida) e Undersleeping (pouco descanso), ou o Overdrinking(beber álcool em festas e não descansar o suficiente)