Publicado: 9 de Outubro de 2013 em:

O Ferro Pt. 3

Depois de um tempo parado por um hérnia inguinal, volto a treinar com menos peso para ir me readaptando. Vamos começar onde paramos: Costas e trapézio. 
 
Não conheço ninguém normal que queira ter costas gigantes, todos pensam em ombros e bíceps. Como se fosse algo para ser escolhido. Te digo meu amigo, o bodybuilding não é algo para ser escolhido: Quem quer ter hérnias, dores todos os dias, lesões nos ombros, joelhos, coluna, andar se rastejando após um treino de pernas torturante ou comer a mesma comida sem gosto e sem vontade todos os dias?! 
 
Isso não é uma escolha, ninguém quer escolher isso: A dor. 
 
Nós escolhemos o prazer, nosso cérebro quer o melhor para nós.
 
Mas bodybuilding não é uma escolha! Você nasce pra isso! E você sabe disso no primeiro dia que você pisa em uma academia e sai dolorido como se tivesse sido espancado. 
 
Isso corre no seu sangue, é como um vírus que te consome dia após dia. Seus sintomas são muito específicos: vontade de treinar sempre com mais cargas, de comer com constância e buscar sempre algo que não pode ser atingido. Sempre com dor. A dor é sempre a companheira, e droga, você gosta disso.
 
Você não vive sem isso. A vida não tem sentido sem isso. É incurável. 
 
Quem vive com isso não se importa se o melhor é treinar peito e bíceps. Treina todos os músculos. E hoje as costas estão me torturando. Treinar costas depois de um dia cansativo de trabalho não é fácil. 
 
E não digo treinar costas usando os velhos pulleys e fazendo puxadas nos equipamentos. Mas se dependurar em uma barra, erguer halteres pesados, fazer remadas como se estivesse tentando puxar pra você algo inalcançável. Segurar um triângulo enferrujado em um levantamento na barra T como se sua vida dependesse daquilo e até em um certo momento parar de contas as repetições. Até a dor invadir todo o seu corpo e sua mente pedir pra você parar, e exatamente nesse momento você continuar. Fazer 8, 10, 12 repetições é fácil. É o que te passam nas “fichinhas de academia”, como se o seu músculo soubesse contar. Dessa vez eu fiz em torno de 70 repetições com todo o peso que pude levantar. Parece que você entra em transe quando a dor cega seus olhos. 
 
Por último o bendito levantamento terra, em outros países o chamam de “Dead Lifit”, levantamento da morte…
 
E confirmo, é realmente um levantamento mortal. Não há nada mais antigo do que levantar algo do chão, e levantar 200kg do chão não é tarefa fácil. Existem histórias de mães que levantaram pickups para salvarem seus filhos de um atropelamento,
histórias reais e confirmadas. Cientistas tentam explicar isso, mas bodybuilders não. É a mesma sensação. Tentar levantar algo com toda a sua força e emoção. Aqui não falamos de impulsos neurológicos, lobo frontal ou explicações científicas. Falamos de força pura e ancestral. 
 
Puxar algo do chão é como tentar trazer o inferno pra terra…
 
A dor é quase insuportável e os riscos são tremendos. Nunca vi alguém realizar esse exercício nas academias dessa cidade de aparências, talvez não seja tão bonito quanto fazer um puxada na máquina. Talvez seja difícil montar os pesos e depois guardar. Talvez isso irá atrapalhar sua conversa na academia, mas para mim quanto pior melhor. Quanto mais trabalho, mais dor, maior é a recompensa. 
 
O treino de ombros também foi pesado. Não foi possível levantar o braço direito durante algum tempo. E meus trapézios dóem ao ponto de andar como um maldito robô. Mas droga, preciso de trapézios. Trapézios para mim é o distintivo dos campeões. Bons trapézios e antebraços dizem quem você é mesmo com uma camiseta larga. Você não sabe quem é um nadador, um corredor ou a droga de um jogador de golfe. Mas sabe quem é um culturista à medida que vê os trapézios pulando até as orelhas e os antebraços explodindo veias. 

 

Você não sabe quem você é, mas sabe quem você quer ser. E para ser um bodybuilder não basta querer!

0 0 vote
Article Rating

Gabriel Ortiz

Gabriel Ortiz, fisiculturista natural lifetime, ou seja, nunca utilizou esteróides anabolizantes ou doping pela WADA. Compete no Brasil e Estados Unidos. Formado em Educação Física, atua como treinador em Brasília, já preparou e prepara vários atletas, inclusive premiados com o título 'Pro Card' pela ANBF em Dez/16 nos Estados Unidos e musa 'Diva Fitness' em 2017 pela WBFF. Redator e colunista desde 2006, cunhou o termo "Preconceito Muscular".

Subscribe
Notify of
guest
2 Comentários
most voted
newest oldest
Inline Feedbacks
View all comments
Anônimo
Anônimo
10 anos atrás

Quero a continuação!,! Foda demais!

Balzana Filho
9 anos atrás

ESSE É O ESPIRITO:Por último o bendito levantamento terra, em outros países o chamam de "Dead Lifit", levantamento da morte… E confirmo, é realmente um levantamento mortal. Não há nada mais antigo do que levantar algo do chão, e levantar 200kg do chão não é tarefa fácil. Existem histórias de mães que levantaram pickups para salvarem seus filhos de um atropelamento,histórias reais e confirmadas. Cientistas tentam explicar isso, mas bodybuilders não. É a mesma sensação. Tentar levantar algo com toda a sua força e emoção. Aqui não falamos de impulsos neurológicos, lobo frontal ou explicações científicas. Falamos de força pura… Read more »

2
0
Would love your thoughts, please comment.x
()
x