23:40min da noite… Mais um dia de dieta. As vezes a irritação toma conta de mim e eu fico puto com todas aquelas pessoas comendo no shopping o que bem entendem. Na vida todo mundo faz o que bem entende. Acho que é por isso que as pessoas se fodem. Eu já fiz o que dava na droga da minha cabeça várias vezes. Consequência disso: Eu sempre me fodi.
Agora não. Agora tenho outra mentalidade. Graças ao Bodybuiling? Eu não sei… Graças a Deus? Quem sabe. Talvez estivesse morto bebendo por aí, ou talvez tivesse entrado nas drogas como meu pai.
A vida é cheia de “talvez”.
Talvez se eu tivesse chegado minutos mais cedo. Talvez se eu não tivesse saído aquele dia. Talvez se eu tivesse me esforçado mais. Isso é uma merda!
As incertezas são como querer crescer tomando Toddynho e comendo pão de queijo. Só te levam pra trás. Cansei das incertezas. Quando me perguntavam se eu iria subir nesse campeonato antigamente respondia: “Talvez… se eu ficar bem…”
Foda-se agora!
EU VOU E PRONTO! Estou decidido a fazer o meu melhor. Seguir esse caminho até o fim. E é assim que vai ser. “haaa… talvez eu devesse…” Chega disso! Isso só me leva pra trás.
Eu faço o que tenho que fazer e ponto final. É pra ficar com fome. Talvez? Não! Foda-se. É pra ficar com fome e comer o que foi planejado.
Aeróbio 5 vezes na semana? “Haaa… mas não deu tempo…” Foda-se, saio de casa de madruga e faço meus 45min.
Posso não ser o maior no palco. Mas não perderei por esforço.
E acho que é assim em tudo na vida. Se esforçar até o fim, tendo fé naquilo que vai acontecer.
Meu primeiro filho nasce em Julho. Pode ser até no dia do campeonato. Serão dois presentes que esperei com ansiedade.
Me preparo pra chegada do dia D. O dia em que nascem duas novas vidas: a minha e a do meu primogênito.
A vida é feita de perdas e ganhos.
Minha mãe me deixou ano passado. 1 ano e 18 dias exatamente hoje. No mesmo ano me veio a notícia do meu filho… Nada preenche a perda do seu ente mais querido, mas ameniza a dor saber que terei alguém pra cuidar de novo.
Perder pra ganhar não é sempre necessário, mas acontece: 12kg se foram em poucos meses, e com certeza alguns poucos a mais ainda terão que ir embora, mas com certeza com isso virão ganhos. A abdicação, a restrição… Todo esse sofrimento tem um fim dia 21 de Julho. Isso não se trata de ego. Se trata de perder para ganhar, de sofrer para receber, de chegar ao fundo do poço e finalmente ver a luz.
As luzes do palco… Os refletores são como as luzes do teto da academia. Me ofuscam a cada vez que deito no banco de supino para realizar uma série pesada. Aguardo as luzes, pois já estive muitos anos nas sombras das trevas. Vivendo nas sombras do passado. Vivendo nas sombras da incerteza e vivendo nas sombras da culpa por tanto tempo que a dor não me incomoda mais.
Muitos reclamam de estar em dieta, mas todo esse sofrimento se torna minha penitência. Eu aceito esse sofrimento como aceito as coisas que não posso mudar. O que passou não volta, e por mais que eu queira eu não consigo fazer o que deveria ter feito, da forma que podia ter feito e no momento exato de fazer. Por isso faço o que eu posso agora, para não me arrepender depois.
A lenta depleção dos carboidratos fazem com que eu não raciocine direito as vezes, e por alguns momentos me pego destraído olhando pro nada. Balanço a cabeça e trato de pensar na preparação e no que eu devo fazer para conseguir estar melhor. Pra mim não é desvantagem não utilizar ergogênicos, pra mim é um desafio a mais. Auto-superação. Todos esses 12 anos de intensidade máxima aplicada nos treinos PRECISAM servir para alguma coisa. Tanto tempo dedicado a isso PRECISA servir agora. E sei que vão.
Nenhum tempo de esforço é desperdiçado, independente no que você se esforce. O foco e a determinação são chaves para atingir um potencia inexplorável pela maioria das pessoas. E acreditem, a grande maioria segue a lei do menor esforço. Por isso vemos tantas pessoas sem resultados nas academias, querendo recorrer a recursos ergogênicos precocemente e sem ao menos ter se dedicado o suficiente. Não julgo quem utiliza tais recursos, mas sim os “garotos de boate”, os “preguiços dos bares” ou os “camisetas apertadinhas”. Essas pessoas não deveriam utilizar substâncias de performance. Deveriam investir seu dinheiro em mais “roupas da moda” e acessórios para seus carros.
Mas não…… O esporte tá na moda. Todo mundo “QUER FICAR GRANDÃO”. Isso me enoja. O egocentrismo, a vaidade me enoja.
ENTENDAM DE UMA VEZ POR TODAS; ESSE ESPORTE NÃO SE TRATA DE VAIDADE! VIVER ISSO NÃO SIGNIFICA SER ARROGANTE! ESTAR LÁ EM CIMA NÃO SIGNIFICA QUE VOCÊ É MELHOR DO QUE NINGUÉM! ESTAR LÁ É RESULTADO DE SOFRIMENTO, ESFORÇO E DEDICAÇÃO!
Se alguém me diz que compete para captar clientes, para conseguir garotas, ou para obter fama eu simplesmente viro de costas e vou embora. Uma pessoa assim não merece respeito. É como querer ser médico por ‘status‘ social. Se faz isso por paixão, por vocação!
A vocação para ser médico, defensor da lei ou bodybuilder é a mesma! E as pessoas deveriam fazer isso por vocação!
Quer se exibir? Tranquilo… Compra uma “regata” ou enfia um biquíni no rabo e sai passeando pelo parque, pela praia, pelo inferno, na neve, no brejo… em qualquer lugar! Mas não me fala que quer pisar em um palco de fisiculturismo.
Vejo que o ego domina a vida da pessoas. Todos querem ser os mais inteligentes, os mais fortes, os mais bonitos e os mais aceitos socialmente, mas ninguém quer ser uma pessoa melhor. Ser maior não é ser melhor. Frank Zane não era o maior dos culturistas, mas depois de muitos anos de eforço, não foram poucos, levou seu primeiro Olympia com uma simetria até hoje admirada.
Por muitas vezes pensei em desistir, mas vendo essas histórias me motivo a seguir em frente. Saber que nem mesmo Ronnie Coleman ganhou o Olympia na primeira vez que pisou em um palco, ou que Jay Cutler costumava se qualificar em 12°… Até os melhores já foram os últimos. Mas dessa vez, a espera por tanto tempo e com tanto sacrifício me trará frutos. Estou certo disso. Sigo essa luz e penso no momento final. No momento que sempre esperei. Terminar minha apresentação e voltar pros bastidores.
De novo nas sombras… e o ciclo se repete. A vida se renova. Uma etapa é cumprida.
Essa é a minha jornada, minha batalha, minha luta contra o ferro.