Publicado: 4 de Fevereiro de 2014 em:

Relacionamentos e Bodybuilder

Bem, meus amigos… Hoje venho falar de um tema corrente na vida de quem treina para campeonatos (Fisiculturismo, Powerlifting, Strongestman) ou de quem leva um estilo de vida de um Bodybuilder. Já tinha todo o material separado, e graças a idéia da Daniela Caporal, grande amiga e consultora nessa área, resolvi organizar e publicar.

 
São dois trechos que traduzi sobre o que passamos em nossos relacionamentos e por ter o estilo de vida que temos. Um é do livro (The Education of a Bodybuilder) de Arnold Schwarzenegger, uma pequena biografia escrita em inglês mais voltada para o Culturismo na vida dele, escrita em 1977 e tão atual quanto o próprio mestre!
 
O outro trecho é de um pôster da Animal, da linha de suplementos da Universal. Vamos dar uma olhada e depois fazer algumas considerações:
 
(…) Herta era uma garota tipicamente difícil. Eu não tinha dificuldade para conseguir garotas. Eu fui introduzido ao sexo com poucas saídas. Os fisiculturistas mais velhos da academia começaram a me incluir nas festas então era fácil pra mim. Esses caras sempre acharam que eu deveria ter uma garota.
 
“Aqui Arnold, essa aqui é pra você.” Garotas se tornaram objetos sexuais. Eu via os outros fisiculturistas usando-as de um jeito que eu achava que era o certo. Nós conversávamos sobreas decaídas em situações românticas, as sérias, como poderiam  te tirar dos seus treinos. Naturalmente, eu concordava com eles. Eles Eram meus ídolos. Minha atitude sobre tudo aquilo mudou radicalmente.
 
Eu costumava sentir que as mulheres estavam aqui por uma razão: Sexo. Era simplesmente outro tipo de exercício, outra função corporal.
 
Eu estava convicto que não poderia ter nenhuma comunicação em pé de igualdade por que ela não iria entender o que eu estava fazendo. Eu não tinha tempo pra sair com uma garota regularmente e passar por um romance de colégio com todos aqueles telefonemas e cartinhas e afins. Isso toma muito tempo.
 
Eu precisava estar na academia. Para mim era uma simples questão de pegá-las no lago, e depois nunca mais as ver. De fato não foi assim 4 anos depois. 
Eu comecei a treinar para que eu tivesse alguma comunicação significativa com uma garota.
 
Na época eu não poderia estar enfadado com garotas como companhias. Minha mente estava totalmente focada no treino, e eu ficava agoniado se qualquer coisa me levasse pra longe disso. Sem tomar uma decisão consciente de fazer isso, eu fechei uma porta nesse aspecto de crescimento, esta vulnerabilidade, e me tornei muito protecionista com minhas emoções. Eu não me permitia ficar envolvido, não foi algo que escolhi; isso apenas aconteceu sem necessidade.
 
Eu comecei esta prática cedo na minha carreira e continuei o quanto servia pra me ajudar a manter um foco claro e levar-me a um ponto fixo. Isso não significava que eu não tinha diversão. Eu era apenas egoísta e protecionista nessa parte de mim, mas parecia que as pessoas sempre queriam entrar em um relacionamento.
 
E quanto mais bem sucedido eu me tornava, mais estrito eu era mantendo este pensamento. Eu não poderia permitir ter meus sentimentos feridos durante meus treinos pesados ou logo antes de uma competição. Eu precisava de emoções estáveis, disciplina total. Eu precisava estar lá treinando por duas horas de manhã e duas horas à noite, me concentrando em nada mais exceto em aperfeiçoar meu corpo e trazê-lo a sua melhor forma.
 
O que eu pensasse que poderia me impedir, eu relutava, eu risquei garotas da minha lista—exceto as ferramentas para minhas necessidades sexuais. Eu eliminei meus pais também. Parecia que eles sempre queriam me ver, e quando eu estava lá eles não tinham nada para dizer.
 
Eu cresci acostumado a ouvir certas perguntas: “O que está errado com você Arnold? Você não sente nada? Você não tem emoções?” Como você pode responder isso? Eu sempre deixava pra lá com um certo esforço. Eu sabia que o que eu estava fazendo não era somente justificável, era necessário.
 
Além do mais, se eu falhasse na coisa emocional porque eu estava tão dedicado, eu acredito que eu beneficiei em outros modos que finalmente tudo ficou equilibrado. Uma dessas coisas foi minha auto-confiança, que cresceu enquanto eu vi quanto controle eu estava ganhando com meu corpo. Em dois ou três anos eu realmente fui capaz de mudar meu corpo inteiro. Isso me chamou a atenção, se eu pude mudar tanto meu corpo inteiro, eu também poderia, pela mesma disciplina e determinação mudar qualquer coisa a mais que eu quisesse. Eu poderia mudar meus hábitos, minha própria visão da vida.
 
Durante os primeiros anos, eu não ligava como eu me sentia sobre nada exceto o bodybuilding. Isso consumiu cada minuto dos meus dias. (…)
Interessante pensar como Arnold poderia ser tão frio? No filme Pumping Iron podemos perceber o quão obcecado ele era. E ouvíamos histórias de que seu pai morreu e sequer foi ao enterro. Arnold desmente, dizendo que fazia parte do seu personagem no filme; frio, calculista e manipulador. Porém todos nós sabemos que Arnold, apesar de ser um ótimo ator, não poderia encenar tão bem. Arnold manipulava Franco, Arnold manipulava Frank Zane e Arnold manipulava seus sentimentos apenas com foco na vitória.
 
  
 
Ele mesmo considera que foi um erro, e que ser protecionista demais com seus sentimentos não lhe fez tão bem, mas foi necessário pra alcançar a vitória.
 
Realmente concordo que os relacionamentos demandam demais, e se os focos forem diferentes sem sombra de dúvida seus treinos e dieta irão ser atrapalhados. Devemos buscar um equilíbrio nisso tudo, buscar alguém que ao menos respeite e apoie. Caso contrário, alguém que impeça seus sonhos não serve para ser seu companheiro/a. Uma relação não se baseia apenas em sexo, ou apenas em diversão, para um atleta essa relação deve trazer estabilidade, paz e calma para treinar e ter foco e realizações tanto profissionais quanto esportivas.
 



Agora vamos ao outro trecho na Animal Pak:

Seja egoístaVocê está sozinho…

Eu já saí despedaçado de dúzias ou mais de relacionamentos… Bodybuilding é um esporte solitário. Eu como sozinho, estou sozinho quando eu treino, e quando finalmente fico debaixo dos holofotes estou sozinho. É noite de sexta-feira e eu estou aqui com minha garota mas estou sozinho. Ela está puta e não vai falar comigo. Não posso dizer que eu a culpe. Ainda assim, ela sabia o que estava por vir…”
– Você é egoísta…
 
“Toda vez que eu encontro um bom relacionamento, eu sempre deixo ela saber o que ela terá: egoísmo…
 
Um grande e gordo amontoado servido disso. Por que perder o tempo dela ou o meu? Eu digo a elas, mas nunca adianta. Elas não imaginam o quão será tão difícil lidar com tudo isso. Talvez elas pensem que poderão me mudar. Claro, como se isso fosse acontecer…”
Você tem que ser egoísta.
 
“Estar nesse grande esporte — ser grande nesse esporte — requer egoísmo… Isso é exigido de você, como o sacrifício é. Mas esse egoísmo não é para proveito próprio ou prazer, mas para  realização pessoal. Há algo que eu preciso cumprir e nada vai ficar entre mim e isto… Nada (…)
 


 
Engraçado, são bem semelhantes. Dois pensamentos de bodybuilders bem semelhantes quando se trata de relacionamentos. Posso dizer por conta própria que passei muito tempo solitário, apenas treinando e comendo. Indo a academia todos os dias. A solidão me ajudava. Me mantinha com foco inabalável. Porém não estava satisfeito. O ser humano precisa se relacionar. Precisa de um porto seguro. E eu encontrei na minha família, que me ajudou a competir.
 
O egoísmo pode e deve ser mensurado. Por exemplo: Você está em dieta, e é claro que você vai precisar de mais proteína, logo as pessoas precisam respeitar um pouco isso. A quantidade de comida que você come é pra te suprir, não pra te dar prazer. Lembro de um capítulo de “Everybody Hates Chris”, que a mãe do Chris (que todo mundo odeia) briga com o garoto por ele ter pego o Frango do seu pai, o Julius. As palavras dela foram: “Guri, você comeu o frango do seu pai, olha o tamanho dele! Como você quer que ele se sustente e trabalhe em dois empregos desse jeito”. 
 
Um cara grande precisa de mais combustível, e não por gula ou ganância, mas para se suprir e as pessoas precisam entender isso! Quando chego em um restaurante e pergunto o peso da carne é porque preciso do peso exato! E pouca quantidade não irá me suprir!
 
Noites em baladas, festas e álcool não são para atletas, por isso também é outro fator que as pessoas, principalmente quem se relaciona com um atleta precisa entender. Poucas festas haverão! Fato! Então não entre nesse relacionamento. Opostos se atraem, mas nesse caso os iguais se juntam, pois a longo prazo não haverá compatibilidade nos estilos de vida. Ninguém consegue treinar pesado depois de uma noite sem sono, ou se alimentar bem desidratado pelo álcool.
 
Devemos buscar o equilíbrio, a compreensão e o apoio em quem nos entende. Perdemos muito tempo com relacionamentos que não irão nos acrescentar ou tentando mudar quem não vai mudar. 
 
 
As pessoas precisam entender o que fazemos, que não é vaidade e não é “ser anti-social”, é algo que está em nossa alma  que não podemos nos livrar. É um desejo ardente que não cessa, é uma vontade de superação e é disciplina formadora de caráter e de físico. 
 
Caso não haja apoio, ao menos tenha compreensão e respeito. Não roube um bife de um fisiculturista, não o chame para festas e baladas regadas a álcool, ou não coma uma pizza e beba água quando ele está desidratando. Isso é tortura!!!! (risos) 
 
O fato é: Esse esporte é egoísta em certa parte, respeite isso e tente conviver com isso, pois é quem somos, o que fazemos e o que nos realiza como seres humanos. Tentar alcançar o inalcançável! Superar o insuperável! E debaixo dos holofotes, poder mostrar o que escondemos dentro de nós mesmos.
 
Escrito, redigido e revisado por GABRIEL ORTIZ. Inspiração e indicação do tema: DANIELA CAPORAL.
 

Caso queira uma cópia, cite o autor e o site. Plágio é crime!

 
 
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Gabriel Ortiz

Gabriel Ortiz, fisiculturista natural lifetime, ou seja, nunca utilizou esteróides anabolizantes ou doping pela WADA. Compete no Brasil e Estados Unidos. Formado em Educação Física, atua como treinador em Brasília, já preparou e prepara vários atletas, inclusive premiados com o título 'Pro Card' pela ANBF em Dez/16 nos Estados Unidos e musa 'Diva Fitness' em 2017 pela WBFF. Redator e colunista desde 2006, cunhou o termo "Preconceito Muscular".

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Filipe Melo
10 anos atrás

Me vi nesse texto.No emprego, na faculdade, muitas vezes já fui chamado de egoísta, de "mala" ou cara que se acha, só pelo meu jeito sério, e de levar os objetivos a risca.Muitos me dizem que não pareço ter somente 19 anos, pela minha maturidade e seriedade em lidar com as tarefas e compromissos do dia a dia.O Bodybuilding me ensinou muito, e um dos ensinamentos foi levar a disciplina para tudo na vida.Posso dizer que me destaco por isso, e muitas vezes, sou reconhecido pelo bom trabalho.E outra, pra arrumar namorada está difícil rsrsrs, achar uma garota que não… Read more »

Gabriel Ortiz
9 anos atrás

Obrigado, Cintia! É ótimo ter mulheres participando do Ferro! Realmente relacionamento é sempre difícil, mas parte da vontade de se relacionar, do respeito e compreensão. Atletas costumam namorar atletas pois meio que se entendem, mas nada impossibilita encontrar alguém que respeite seu estilo de vida!!!

Abraço

Gabriel Ortiz

Manuela Veiga
Manuela Veiga
2 anos atrás
Reply to  Gabriel Ortiz

Depende, sou casada com um fisoculturista nunca o deixei só apesar dos transtornos psicológicos muitas vezes, sempre apoiei respeitei e perdoei com carinho coisas menos positivas, insentivo, tou presente sempre que possível e mantenho a minha postura, antes de esposa de um homem, sou a sua melhor amiga, aquela que tá sempre presente e um conselho a todas as namoradas esposas, não façam alaridos nem dramas, apoiem tentem compree der são seres humanos apaixonados pelo que fazem, não abandonem nem condenem, quando algo não correr bem, apenas se limitem ao silêncio e mais tarde quando o humor tiver melhor sentem… Read more »

gabriel
Admin
1 ano atrás
Reply to  Manuela Veiga

Sábios conselhos, Manuela! Abraços

Cíntia Franco
9 anos atrás

Adorei o texto!
E se para o homem é difícil, imagine para uma mulher que quer se tornar fisiculturista.
O preconceito já nasce ao dizer que músculo é coisa de homem… Como fazer? Nos tornar tão frias quanto os grandes atletas? "Usar" os homens em uma sociedade que já é tão machista, e nos tornarmos "galinhas".
Vida difícil, e alguns como eu só estão começando! E aguardando que algum dia as pessoas entendam esse amor! S2

Danilo Silva
9 anos atrás

Ótimo texto. E eu sem muito bem como um relacionamento ruim pode ser frustante na vida de um atleta.

E é como eu sempre digo: Relacionamento serve para somar e futuramente multiplicar. E não atrasar.

Fique com Deus e um grande Abraço.

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