Publicado: 14 de Setembro de 2013 em:

NÃO CHAME UM FISICULTURISTA DE BONITO!

A Verdade Por Trás Do Físico Incrível De Mark Dugdale

Um fisiculturista está longe de ser bonito, ou não se prepara para você chamá-lo de bonito, ou se enquadrar em um padrão estético que você deseja. Ele faz isso com uma finalidade esportiva e competitiva, ter um físico harmonioso é consequência do esporte que ele pratica. – Gabriel Ortiz

FLEX, outubro de 2004 por Shawn Perine (Traduzido e adaptado por Gabriel Ortiz)

Nunca chame um fisiculturista de “bonito”. Ao elogiar um, tente se abster de usar adjetivos do tipo “belo” ou “elegante”, e tenha certeza de usar “gracioso” tão judiciosamente (tão sensata ou “absurda”) quanto você usaria catchup em um filé mignon Kobe. O fisiculturismo, por natureza, é uma atividade bombástica: isso é sobre construir músculos demolindo-os; atacando-os com pesos progressivamente mais pesados até que eles finalmente perdem a batalha no atrito contra uma mente obsessiva. Como tal, seus participantes são mais hábeis em apreciar elogios que contêm palavras do tipo “grande”, “massivo”, “freaky” e “monstro”. 

Como alguém então descreveria o físico do novo IFBB Pro, Mark Dugdale?

Embora seus músculos sejam qualquer coisa exceto pequenos, sua aparência global é definida por muito mais do que mero tamanho: o modo como seus deltóides fluem de encontro a seus tríceps; o modo como seus peitorais se equilibram sobre sua coluna abdominal; a separação muscular em suas coxas; os cortes em suas panturrilhas. Todas as peças trabalham em harmonia para criar um físico que pode ser designado, se não como “bonito” ou “elegante” ou “gracioso”, então como “clássico”.


Uma tendência clara agarrou o esporte do fisiculturismo profissional. Considerando que há apenas alguns curtos anos atrás o nome do jogo era tamanho a todo custo, agora nós estamos vendo um movimento no sentido de físicos que representam um ideal que precede a Arnold Schwarzenegger, Larry Scott e até mesmo Eugene Sandow.

É a estética glorificada pelos antigos gregos em suas cerâmicas, nos frisos romanos e pelos artistas do Renascimento em suas esculturas. É sobre ombros largos e cinturas pequenas, ventres musculares arredondados e separação entre os grupos de músculos. Em resumo, é o que Dugdale trouxe ao palco numa recente competição nacional dos E.U.A. e o que ele sugere continuar apresentando ao longo de sua carreira profissional.

A SOMBRA DEIXA SUA MARCA 

Aos 29 anos, o futuro de Dugdale é tão luminoso quanto o sol da manhã sobre sua residência em Woodenville, Washington, casa que ele compartilha há sete anos com a sua esposa, Christina, e suas três jovens filhas, Madison, Lauren e Julia. Contudo, campeão light-heavyweight e overall norte-americano de 2004 é uma curiosa dicotomia entre paixão e convicção entremeado por fúria e determinação. 

Dugdale foi apresentado ao treinamento com pesos à idade de 13 anos, quando seus pais lhe compraram seu primeiro conjunto de barra e anilhas, e um aparelho multifuncional que ele comprou de seu professor de ciências do segundo grau. Aos 18 anos, a vida de Dugdale seria fixada em um caminho irreversível no dia em que ele foi ao Emerald Cup Classic para assistir a seu tio, Bill Burns, competir na categoria master.

Como se assistir a um parente próximo competir pela glória no fisiculturismo não fosse o bastante, Dugdale foi arrebatado pela visão temerosa do posador convidado, Dorian ” A Sombra ” Yates. Isso era mais que suficiente para convencer ao jovem Dugdale a mergulhar por sí mesmo em sua carreira competitiva. Depois daquele ano, ele entrou e venceu sua primeira competição de bodybuilding, a categoria juvenil do Natural Northwest 1993, com um peso corporal de 65 kg bem definidos. 

Desde então, Dugdale viajou continuamente para cima através da escadaria do bodybuilding competitivo, competições premiadas como o Oregon State Championships, o Washington State Championships e o Los Angeles Championships, melhorando continuamente a qualidade do seu físico já tão bem esculpido. 

A HISTÓRIA DE DUGDALE

Dugdale teve como o ano do seu batismo, o de 2003. Depois de passar rasgando através do Oregon State e do L.A. Championships, ele entrou na categoria Light-heavyweight do Campeonato Norte Americano. Naquela que era a categoria mais calorosamente competitiva do evento, Dugdale terminou em um respeitável terceiro lugar, atrás de Kris Dim e do campeão overall Richard Jones, ambos a quem iriam reservar um prêmio de terceiro lugar logo em sua competição de estréia como profissional.

Depois do USA 2003, Dugdale rapidamente viu-se no rastro da celebrização no bodybuilding. Sua combinação entre boa aparência, físico polido, amabilidade e valores familiares o asseguraram uma base forte de fãs leais.

No dia 17 de julho de 2004, esta germinante legião de fãs de Mark Dugdale conseguiu ver seu herói elevado ao degrau superior da escada do fisiculturismo amador conforme ele passou por Las Vegas como uma tempestade de verão e capturou o título light-heavyweight e overall do USA Bodybuilding Championships, com um desempenho tão absoluto a ponto de ser memorável.

Prosseguindo cabeça a cabeça contra um Chris Cook com mais de 108 kg e um Will Harris com mais de 99 kg, pela honra geral e uma credencial de profissional, um Dugdale de 88 kg demonstrou à audiência presente no Artemus W. Hall um nível de refinamento em seu físico que fez com que detalhes tais como tamanho e peso parecessem insignificantes. Foi uma exibição magnífica de um físico que era no mínimo… bonito. E ele foi a escolha unânime para o overall. 

HEAVY HITTER 

UMA suposição comum no bodybuilding é que se alguém aspirar desenvolver um físico esteticamente agradável, digamos, como o de Mark Dugdale, tal pessoa deveria aderir a uma fórmula baseada em cargas leves, altas repetições e um grau significativo de volume. É o sistema de treinamento aprovado em toda parte pelos personal trainers com a melhor certificação. Exceto que esse não é o modo como Dugdale treina. 

“Os dois métodos de treinamento que mais influenciaram ao meu próprio foram o sistema Heavy Duty do Mike Mentzer, e o Blood & Guts do Dorian Yates”, diz Dugdale. “Basicamente eu adaptei o que eles fizeram para ajustar isso ao meu próprio corpo. Dorian faria uma única série de alguns poucos exercícios e Mike defendia treinar menos ainda. Eu faço um pouco mais que eles, mas não muito”.

IR A FALHA

Para ele, isso significa duas séries pra valer para cada exercício, e três ou quatro exercícios por parte do corpo. Além disso, Dugdale mantém suas repetições numa faixa baixa — seis a 12 repetições para as séries principais — com o nível mais baixo de tal amplitude sendo visitado mais regularmente.

Ele quase sempre treina “até o fracasso ou além” o que significa ter um parceiro de treinamento o ajudando com suas repetições forçadas depois que o corpo dele já não tem a capacidade para erguer os pesos por si mesmo. “Mas eu faço a fase negativa da repetição por mim mesmo”, ele nos assegura. O programa de treinamento de Dugdale normalmente baseia-se em quatro dias por semana, com cada sessão durando uma hora.

Como você poderia esperar de qualquer devoto da alta-intensidade, Dugdale manipula cargas bastante pesadas durante o curso de cada um de seus treinamentos. Entre estas, Rosca no banco inclinado com halteres de 38 kg, remada curvado com barra, usando 182 kg, encolhimento de ombros com 263 kg, e inacreditavelmente, ele agacha até 304 kg para várias repetições, tudo isso com um peso corporal em off-season, de menos de 104 kg.

TRABALHO DURO

É um trabalho de detonar as tripas que poucos fisiculturistas estariam dispostos a suportar — um regime mais tipicamente associado aos basistas e aos competidores de eventos strongman do que a fisiculturistas. Então, como alguém pode explicar as linhas fluentes e a arquitetura graciosa do físico de Dugdale?

Por que ele não se transformou em um behemoth quadrado e carnudo, treinando deste modo? Seguramente, ele precisa preencher as lacunas deixadas por tais treinamentos abreviados (uma hora ou menos) com uma enorme variedade de exercícios cárdio.

CARDIO?

“Nenhum cárdio. Nenhum. Nada”, diz Dugdale. OK, já que ele não caminha mais longe do que a distância entre o estacionamento de sua empresa, a Garden Fresh Foods, à porta de entrada dos funcionários, durante seu off-season. Seguramente, ele bate seus pés durante períodos prolongados, conforme ele produz aqueles incíveis estriamentos cruzados em suas coxas. ” Eu faço cerca de meia hora de StairMaster em minha casa antes do café da manhã, a cada manhã [pré-contest], mas é só isso “. 

Os tradicionalistas do bodybuilding que estão lendo isso – a gangue do alto-volume de treinamento – provavelmente está balançando as cabeças exatamente agora em sua descrença coletiva quanto a isso: “Então Dugdale consegue atingir um físico de calibre profissional atacando o ginásio um total de quatro horas em uma semana inteira. Mas a quem ele está querendo enganar? Com o potencial genético dele, ele poderia cortar anúncios de propaganda de Health-Clubs do PennySaver e ainda assim poderia crescer. Esse estilo de treinamento não irá funcionar para o restante de nós”! 

A ESPOSA DE DUGDALE

Ou talvez irá! A esposa de Dugdale, Christina, uma pessoa ativa e em forma antes mesmo de conhecer Mark, decidiu que se ela quisesse ver seu jovem esposo o máximo possível, seria melhor ir com ele ao ginásio. Além disso, ela adotou o brutalmente intenso estilo de treinamento dele, apesar de ter um conjunto de metas completamente diferente. Com intensidade máxima e agachando 100kg, a pequenina Christina começou a esculpir ao próprio físico em algo do mesmo modo impressionante, embora completamente diferente, do marido dela.

O resultado: Christina, medindo 5′ 3/4 ” e pesando 47 kg desenvolveu uma figura que pode ser descrita categoricamente como bela, elegante e atraente. Na realidade, tão bonita assegurou a ela a vitória no Washington Ironman Figure Championships de 2003, superando nesse processo, mais de 50 competidoras. Tudo isso, já sendo mãe de três filhas. 

NÃO JULGUEIS… 

Conforme Dugdale velejava através de poses após temerosamente inspiradoras poses durante o posedown do 2004 USA Championships, ninguém poderia evitar em sentir uma ponta de inveja. Talvez isto seria por causa do seu ar de astro do cinema ou do seu bronzeado perfeito. Talvez fosse o modo como ele fluia para dentro e para fora de cada pose com graça leonina e poder.

Ou seria aquele físico perfeito que parecia bom visto de qualquer ângulo, como se reposicionado constantemente pelo próprio Joe Weider para seus próprios olhos. Possivelmente a maior causa de ciúme por parte de nós esforçados fisiculturistas, era como aquilo parecia tão fácil para ele.

Aquela não poderia ser a face nem o físico de um sujeito que houvesse suportado a tensão e a dor que nós os mortais suportamos nos dias em que treinamos. Alguns sujeitos nascem com isso, nós percebemos, e nós não seríamos culpados de falso julgamento se ele fosse outro destes caras – o sortudo com seu físico bonito. 

Na verdade nós sabíamos tão pouco . . . ! 

O PROGRAMA DE MARK DUGDALE PARA O USA CHAMPIONSHIPS 2004: 

DIVISÃO DO TREINAMENTO 

SEGUNDA-FEIRA:- Peitorais, bíceps e panturrilha 

TERÇA-FEIRA:- Quadríceps e abdominais 

QUARTA-FEIRA:- descanso 

QUINTA-FEIRA:- Dorsais, ísquios tibiais e panturrilha 

SEXTA-FEIRA:- Ombros, tríceps e abominais, 

SÁBADO:- descanso 

DOMINGO:- descanso 

* Dugdale executa 30 minutos de exercícios cárdio a cada manhã quando em pré-contest. 

POR SHAWN PERINE
ESCRITOR SÊNIOR 

REGISTRO 2004 Publicações de Weider

Tradução e adaptação: Gabriel Ortiz

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Gabriel Ortiz

Gabriel Ortiz, fisiculturista natural lifetime, ou seja, nunca utilizou esteróides anabolizantes ou doping pela WADA. Compete no Brasil e Estados Unidos. Formado em Educação Física, atua como treinador em Brasília, já preparou e prepara vários atletas, inclusive premiados com o título 'Pro Card' pela ANBF em Dez/16 nos Estados Unidos e musa 'Diva Fitness' em 2017 pela WBFF. Redator e colunista desde 2006, cunhou o termo "Preconceito Muscular".

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