Parceria, segundo o dicionário Aurélio, significa: igual, semelhante, paralelo, par. Pode ser também um companheiro(a), uma dupla no jogo de cartas ou mesmo um espertalhão (“espertalhão”!? culpa do dicionário).
Na musculação, os parceiros de treino têm uma relação simbiótica, de protocoperação, na qual ambos são beneficiados, como o crocodilo e o pássaro-palito, a tarambola ou os anus. Essas aves posicionam-se nas costas do réptil e entram até mesmo em sua boca, comendo os parasitas do corpo e dos dentes do animal. Assim, o predador não devora essas presas e fica com o corpo e os dentes limpos, livre de doenças.
Diferente das histórias em quadrinhos e dos desenhos animados que mostram a simbiose do personagem Venom, invadindo o corpo do homem-aranha, fazendo-o pensar que se tratava de um roupa preta, a simbiose na musculação precisa ser algo combinado, natural e que dê certo.
“Algo semelhante”, lembra? Parceiro=semelhante, paralelo! Ou seja, um parceiro precisa ser uma pessoa com um nível e consciência de treino muito parecido com o seu. Imagine, por exemplo, Arnold Schwarzenegger treinando com Mike Mentzer? Não seria compatível! Os dois utilizam técnicas de treino muito distintas, de escolas diferentes.
Voltando ao Venom, das histórias do Homem-aranha, foi descoberto que se tratava de um parasita, e não de um ser simbionte! As relações de parceria no treino devem estar longe desses interesses egoístas, parasitários, como será possível perceber a seguir.
Recorro às palavras de Arnold: “A parceria de treino bem sucedida é como um casamento” e acrescento: um precisa prestar atenção no outro, no seu desenvolvimento muscular, na sua alimentação, no seu humor, ambos devem se motivar, buscando sempre crescer e crescer, literalmente; ajudar nos momentos difíceis, comemorar nos momentos de vitória, abrir mão de vícios e manias, acompanhar o desenvolvimento pessoal, motivar, incentivar, colaborar e criticar quando for preciso.
Eu sou assim com minha esposa, aposto que vocês também são!
O parceiro serve para nos estimular a levantar mais peso, a ir além dos nossos limites. Como seres naturalmente competitivos, temos essa necessidade. Ir além do limite sozinho é bacana, porém, contando com ajuda, podemos ter mais segurança. Por trás de um grande atleta há sempre uma grande equipe: Rally Dakar, Fórmula Um, Iron Man e até mesmo as “corridas de aventura”…
Todos sabemos reconhecer uma boa equipe, basta ver a otimização do trabalho. Nas corridas automobilísticas, por exemplo, para a equipe mecânica da montadora, cada fração de segundo é importante. Na musculação não poderia ser diferente. O tempo de intervalo precisa ser seguido, as pirâmides de intervalo utilizadas para aumentar a intensidade, o tempo de treino, a cadência na execução de exercícios, tudo isso deve ser otimizado ao máximo para melhorar a resposta do treino. Se seu parceiro conversa muito, não presta atenção nesses detalhes, executa o exercício fora da proposta combinada, descansa demais ou é preguiçoso, você será prejudicado e, com certeza, será um retardatário na corrida.
Arnold teve grandes parceiros em sua história no fisiculturismo, como Karl Gerstl, que citarei em um próximo artigo, e Franco Columbo, que até hoje é grande amigo do “governator”, tendo participado de alguns de seus filmes e recebido homenagens. O “carvalho austríaco” já treinou com Frank Zane, Dave Draper, Ed Corney, Casey Viator, com o levantador de peso Jusup Wilkosz (parceiro de treino para o Mr. Olympia de 1984 – Jusup ficou em 3º lugar), com seu ídolo Reg Park na África… Todos esses parceiros ajudaram nas vitórias de Arnold. E será que Arnold retribuiu? Com grande parte dos parceiros, sim.
Arnold com Jusup Wilkosz
Um fato chama a minha atenção. No Mr. Olympia de 80, Arnold treinava com Frank Zane, dizendo que não participaria do campeonato. Para surpresa de todos, no último segundo ele apareceu com sua sunga preta para a competição! Essa foi uma atitude de parceiro? Claro que não! Arnold detonou psicologicamente Frank e ganhou a competição.
Arnold, muito esperto, por muitas vezes se usava de artimanhas para derrubar rivais, principalmente psicologicamente, querendo obter a vitória a qualquer custo (o que ele chama de “Luta Psicológica”, que discutiremos depois). Sua tática também incluía truques, como piadas para distrair os oponentes nas competições. No Mr. Olympia de 1980, Arnold relata que contou uma piada para Frank Zane, que, no exato momento da pose, começou a rir tanto que sua concentração para a próxima pose se foi.
A manipulação também era de grande valia. Claro que no filme “Raw Iron” o grande ator desmente tudo isso. Já em “Pumping Iron”, filme que muitos dizem ser uma “ficção”, com cenas editadas e atuadas para parecer que havia um “vilão” na história e dar mais dramacidade, Arnold diz que Franco é uma criança que busca por seus conselhos e acrescenta, com tom muito irônico, que não é difícil dar os conselhos errados.
O que podemos deduzir de jogo de manipulação? Isso tudo é válido ou não? Como disse, discutiremos isso posteriormente, mas o que podemos fazer é nos espelhar nas boas atitudes, na motivação que Arnold proporcionava e como era contaminante sua força de vontade e energia durante o treino. Treinar com Arnold certamente fez com que Franco ganhasse o Olympia e que muitos parceiros aprimorassem seu físico.
No Bodybuilding existem várias outras famosas parcerias: Dorian e Leroy Davis, Lee Haney e Rich Gaspari.
OUTROS FAMOSOS PARCEIROS DE TREINO:
- Lou Ferrigno e Ira Bankofsky (há fotos da dupla no artigo “O Duelo Lendário entre Schwarzenegger e Lou Ferrigno”)
- Arnold Schwarzenegger e Franco Columbo
- Dorian Yates com Leroy Davis (Ver entrevista no link “Diversos”)
- Lee Haney e Rich Gaspari (1984)
Fique de olho nos tipos de parceiro e seja esperto ao escolher o seu:
Parasita
Fica só encostado, querendo ajuda em todos os exercícios, sem dar a mínima atenção para o que você está precisando e ainda por cima rouba seu Whey Protein.
Olho Gordo
Fica olhando com cara de inveja para seus bíceps e dizendo que você não vai aguentar levantar aquela carga, que está pesada, e torce para não conseguir. Se você consegue levantar, ainda fala que é por causa da creatina.
Atrasado
Não é pontual, chega atrasado no treino e falta por estar cansado ou pra ir a alguma festa.
Hi-tech
Usa polar, shox pra agachar melhor, relógio que mede insulina; utiliza palm top nos treinos e medidores de tempo de série e execução.
Playboy
Parece-se com o Hight-tech nos acessórios, porém quer ficar grande para ir a showzinho de axé sem camisa. Geralmente desiste dos treinos, toma anabolizantes sem nenhum conhecimento e sem necessidade para “impressionar”. Vai de “abadás” para a academia e paquera as gatinhas, com o pretexto de revesar um aparelho.
Agulha
Só fala de anabolizantes, coloca todo o crédito nisso e tem convicção de que você só vai crescer se usá-los.
Frango
Esse é clássico! Parceiro frango é aquele que tem medo de levantar peso. Sua mente é atrofiada para a musculação, com uma visão pequena de esforço e força de vontade no treino. Não busca conhecimento, não se alimenta direito, gosta de comer besteira e tem preguiça de treinar. Diz sempre a seguinte frase: “Não quero ficar muito grande”, como se conseguisse ficar pelo menos um pouco grande. Fala que todo mundo que é grande toma bomba, muitas vezes até ele mesmo toma, porém gosta mesmo de criticar, pois não tem capacidade para se superar. Quer tudo fácil, conversa muito, tem geralmente uma visão preconceituosa, devido ao pouco conhecimento. Os frangos em todas as partes, são alunos, professores, desportistas de final de semana, colegas de trabalho, de escola, de faculdade, jovens, velhos, ricos, pobres, gordos, magros, carecas, cabeludos, roqueiros, pagodeiros, seu amigo, seu vizinho, seu irmão, seu pai, seu dentista, médico, ortopedista, fisioterapeuta; são famosos, desconhecidos, músicos, modelos, atores, artistas. Com certeza você conhece vários. Fuja desse tipo de parceiro e mesmo das conversas dele, a gripe aviária é contagiosa. É um vírus que se espalha pela fala, atitude e basta olhar para pegar, se você não estiver vacinado.