Como é que os mutantes conseguem? O recordista mundial de levantamento terra Andy Bolton agachou com 226 kgs e levantou 272 kgs no terra na primeiríssima vez que tentou esses movimentos.
O ex-Mr. Olympia Dorian Yates supinou 143 kg na sua primeira tentativa quando ainda era um adolescente.
Brian Dobson , proprietário do Ginásio Metroflex, conta a história do seu primeiro encontro com o (na época) powerlifter e futuro Mr. Olympia Ronnie Coleman. Ele descreve as pernas enormes de Ronnie com veias salientes que sobressaiam através do spandex, apesar do fato de Ronnie nunca ter usado um esteróide anabolizante nessa altura.
Arnold Schwarzenegger parecia mais musculoso após um ano de treino do que a maioria das pessoas depois de dez.
É simplesmente óbvio que alguns indivíduos respondem muito melhor ao treino de musculação do que outros. Mas o que faz com que a elite responda muito melhor do que nós, pessoas normais?
Pesquisas recentes demonstraram que alguns indivíduos respondem muito bem ao treino de musculação, enquanto outros respondem, e outros não respondem de forma alguma. Você leu corretamente. Algumas pessoas não apresentam qualquer resultado visível. Os investigadores criaram o termo “sem-resposta” para estes indivíduos.
Os que responderam pior, perderam 2% de área muscular transversal e não ganharam força nenhuma. Os que responderam melhor, aumentaram a sua área muscular transversal em 59% e a sua força de 1RM em 250%. Tenha em mente estes indivíduos foram submetidos a um protocolo de treino exatamente idêntico ao que seguiram os restantes voluntários.
O estudo Hubal não é o único estudo que mostra esses tipos de resultados. Petrella mostrou que 16 semanas de exercício dinâmico progressivo em que participaram 66 voluntários humanos, não proporcionou qualquer percentagem de hipertrofia em 26% dos indivíduos!
Agora, a questão é, quais os mecanismos que explicam isso? Para descobrir a resposta, vamos nos debruçar nos conhecimentos científicos atuais.
Fortes evidências sugerem que os resultados que se vêm na academia, são altamente dependentes da eficácia da adição mediada por células satélite mionucleares. Em termos leigos, os seus músculos não irão crescer a menos que as células satélite que envolvem as fibras musculares doem os seus núcleos aos músculos para que eles possam produzir mais material genético para sinalizarem as células a crescerem.
Petralla mostrou que a diferença entre os que respondem de forma excelente em comparação com os que respondem de forma média e os que não respondem ao treino de força, está principalmente no nível de ativação das células satélites. Os que respondem de forma excelentes possuem um maior número de células satélites que circundam as suas fibras musculares, bem como uma notável capacidade de expandirem as suas reserva de células satélite através do treino.
Neste estudo, os que responderam de forma excelente, possuíam uma média de 21 células satélites por 100 fibras na linha de base, que subiu para 30 células satélites por casa por 100 na 16ª semana. Isto foi acompanhado por um aumento de 54% na área de fibra média. Os que não responderam, tinham em média 10 células satélite por cada 100 miofibras no início do estudo, número esse que não se alterou após os treinos, nem o seu nível de hipertrofia.
Um artigo diferente por Bamman, que usou os mesmos investigadores, e exatamente a mesma experiência, mostrou que de 66 indivíduos, o top 17 que responderam melhor, obtiveram um ganho de 58% de área transversal, os 33 que responderam de forma média ganharam 28% de área de secção transversal, e os que responderam não ganharam nenhuma percentagem de área transversal. Para além disso:
Uma investigação de Timmons indica que existem vários miRNAs altamente expressivos que são regulados de forma seletiva nos indivíduos que se inserem nos 20% dos indivíduos que responderam pior, num estudo longitudinal de intervenção com treino de musculação.
Uma outra investigação realizada por Dennis mostrou que os indivíduos que têm uma elevada expressividade dos genes-chave relacionados com a hipertrofia têm uma vantagem adaptativa distinta em comparação com os indivíduos normais. Indivíduos com uma menor expressividade basal dos genes-chave relacionados com a hipertrofia mostraram menos adaptações ao treino de força, apesar do fato do treino ter feito aumentado a sua expressão genética em resposta ao exercício.
Algumas pessoas têm sorte na loteria da genética, enquanto outras têm imenso azar. Geneticamente falando qualquer coisa, que afete de forma negativa a capacidade das fibras musculares aumentarem o seu número de mionúcleos em resposta à carga mecânica, irá reduzir o potencial de hipertrofia e de força.
Isto varia desde o número de moléculas sinalizadoras, o nível de sensibilidade das células aos sinais, o número de células satélites disponíveis, o aumento da reserva de células satélite, à regulação do miRNA. É claro que a nutrição e programa de treino ideal podem desempenhar um papel na hipertrofia, e certos genótipos podem também estar associados com o nível de hipertrofia.
Os genes podem afetar o armazenamento e a perda de gordura, influenciando o consumo de energia, o gasto energético, ou repartição de nutrientes. Pesquisadores cunharam o termo “meio ambiente obesogênico” para descrever a forma através da qual as mudanças no estilo de vida que ocorreram durante o último século, expuseram os nossos fatores de risco genéticos à adiposidade excessiva.
A seleção natural pode ter favorecido aqueles que possuíam genes associados com o metabolismo económico, que teria permitido a sobrevivência em tempos de escassez de nutrientes. Agora que grande parte do mundo adoptou um estilo de vida moderno caracterizado pelo sedentarismo e ingestão calórica excessiva, esses mesmos genes estão agora a contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde e obesidade.
Bouchard recrutou doze pares de gêmeos e submeteu-os a um excedente calórico de 1.000 calorias por dia, para um total de 84.000 calorias em excesso, durante um período de 84 a 100 dias. Durante esse período de tempo, os voluntários mantiveram um estilo de vida sedentário. O ganho de peso médio foi de 8 kgs, mas o intervalo de resultados variou de 4,3 kgs a 13,3 kgs!
Arnold Schwarzenegger parecia mais musculoso após um ano de treino do que a maioria das pessoas depois de dez.
Apesar de todos os voluntários terem seguido o mesmo programa alimentar, os indivíduos mais amaldiçoados em termos metabólicos, ganharam mais do que o triplo do peso do que os indivíduos mais abençoados em termos, armazenando nos seus tecidos, 100% das calorias ingeridas em excesso (em comparação com apenas 40% de calorias armazenadas nos tecidos nos indivíduos mais abençoados), e um aumento da gordura visceral abdominal em 200% (em comparação com 0% no caso dos indivíduos mais abençoados).
Foram observadas variações semelhantes num estudo realizado por Bouchard, no qual voluntários gêmeos consumiram uma quantidade constante de energia ao mesmo tempo que se exercitavam com frequência.
Pérusse demonstrou que os traços genéticos influenciam em 42% os níveis de gordura subcutânea e em 56% os níveis de gordura visceral abdominal. Isto significa que a genética tem uma influência importante em relação ao local onde você armazena a gordura, e algumas pessoas têm uma predisposição alarmante para armazenar gordura na região abdominal.
Bouchard e Tremblay estimam que 40% da variabilidade na taxa metabólica de repouso, efeito térmico dos alimentos e custo de energia do exercício realizado a intensidade baixa e moderada, está relacionado com a genética. Eles também afirmaram que os níveis de atividade física habitual são grandemente influenciados pela hereditariedade.
Loos e Bouchard propuseram que a obesidade tem uma origem genética, e que as variações na sequência de receptores adrenérgicos, proteínas de desacoplamento, o receptor activado por proliferadores de peroxissoma, e genes receptores de lepton são de uma relevância particular.
O’Rahilly e Farooqi acrescentaram que a insulina VNTR e IGF-1 SNPs também podem estar envolvidas na obesidade, e Cotsapas demonstrou 16 “loci” diferentes que afectam o índice de massa corporal (IMC), e que também estão associados à obesidade extrema. Rankinen mapeou centenas de possíveis genes candidatos que poderiam promover a obesidade.
Fawcett e Barroso demonstraram que o gene (FTO) está relacionado com a massa de gordura e obesidade. Sendo o primeiro a ser universalmente aceite de forma inequívoca como estando associado com adiposidade. A deficiência de FTO protege contra a obesidade, e os seus níveis elevados aumentam a adiposidade, provavelmente devido ao aumento do apetite e diminuição do gasto energético.
Tercjak acrescenta que o FTO também pode afetar a resistência à insulina, e sugere que mais de 100 genes influenciam a obesidade. Herrerra e lista Lindgren listam 23 genes que estão associados à obesidade, e sugerem que a hereditariedade influencia 40 a70% do IMC! (índice de massa corporal)
O investigador Faith encontrou provas de influências dos genes na ingestão calórica. Choquette chegou a conclusões similares após ter examinado os comportamentos alimentares de 836 indivíduos e encontrou seis ligações genéticas relacionadas com o aumento do consumo de calorias e macronutrientes, incluindo o gene da adiponectina.
O que significa tudo isto? Significa que alguns indivíduos estão geneticamente predispostos à adiposidade e armazenamento de gordura abdominal.
Mas algumas pessoas nasceram para serem excelentes atletas, enquanto outros nasceram para aquecer o banco? Vamos descobrir.
Embora ainda tenhamos muito para aprender acerca da relação entre a genética e o desempenho humano, sabemos que existem muitos tipos diferentes de genes que podem afectar o desempenho físico.
Bray et al. (2009) mapearam os genes humanos actualmente conhecidos que afectam o desempenho a partir de 2007 e concluíram que 214 genes autossômicos e loci, bem como 18 genes mitocondriais, parecem influenciar a aptidão e desempenho físico.
O gene mais popular que se sabe que melhora o desempenho é o ACTN3, também conhecido como 3-alfa-actina.
Existem duas proteínas alfa-actina: a ACTN2 e ACTN3. As alfa-actinas são proteínas estruturais das linhas Z nas fibras musculares, e enquanto a ACTN2 é expressa em todos os tipos de fibra, a ACTN3 é preferencialmente expressa nas fibras tipo IIb. Estas fibras estão envolvidas na produção de força de altas velocidades, razão pela qual ACTN3 está associada à produção de um poderoso nível de força.
Aproximadamente 18% dos indivíduos, ou um bilhão de pessoas em todo o mundo, são completamente deficiente em ACTN3 e os seus corpos produzem mais ACTN2 para compensar a ausência. Esses indivíduos simplesmente não conseguem gerar movimentos tão explosivos como os que produzem a alfa-actina-3, razão pela qual os velocistas de elite quase nunca são deficientes em alfa-actina-3 (Yang).
O gene da ECA, também conhecida como a enzima conversora antiotensina, também tem sido associado ao desempenho humano. Um aumento da frequência do alelo D da ECA está associado à potência dos atletas de sprint, enquanto um aumento da frequência do alelo I da ECA está associado aos atletas de resistência (Nazarov).
Cauci demonstrou que as variantes do gene IL-1RN VNTR estão associadas com a melhoria do nível atlético. Esse gene afecta as citocinas que fazem parte da família das interleucinas e aumenta a resposta inflamatória e de reparação que segue ao processo a seguir ao exercício. O trabalho de Reichman fornece suporte de apoio a esta pesquisa, pois descobriram que a proteína e o receptor de interleucina-15 estão associados ao aumento da hipertrofia muscular.
Existe uma abundância de outros genes apresentam potencial para melhorar o desempenho atlético, tal como o gene da miostatina, mas ainda não existem provas conclusivas, ou simplesmente ainda não temos uma compreensão suficientemente clara do quebra cabeça completo
Embora os estudos e investigações que referimos neste artigo sejam bastante assustadores, eu tenho algo a dizer em relação a isso.
Em primeiro lugar, todos nós temos problemas com a genética, com os quais temos que lidar e contornar. Alguns de nós estão predispostos ao excesso de gordura, outros de nós são magros, mas têm áreas com gordura localizada, alguns têm problemas de desenvolvimento muscular, e alguns são musculosos, mas têm partes do corpo com pouco desenvolvimento. Alguns de nós têm isso tudo combinado, e ninguém tem uma genética perfeita!
A minha lista de maldições genética tem um quilómetro de comprimento, mas apesar disso, consegui desenvolver um físico bastante respeitável e níveis de força um pouco impressionantes.
Segundo, os protocolos usados nas investigações não envolveram qualquer tipo de experimentação, de ajustes, e auto-regulação do treino. Todos nós precisamos de ajustar as variáveis e descobrir a nossa metodologia de programação ideal.
Algumas pessoas respondem melhor à variedade, algumas ao volume, outras à intensidade, algumas à frequência, e algumas outras à densidade. Você tem que descobrir qual o melhor estímulo para o seu corpo, que evolui ao longo do tempo.
E terceiro, falei com os meus colegas sobre esse assunto e numa coisa estamos todos de acordo: nós nunca treinamos nenhum indivíduo que não tenha desenvolvido uma melhor aparência depois de alguns meses de treino, assumindo que se manteve fiel ao programa. Todos eles perderam gordura e ganharam alguma forma muscular.
Enquanto algumas pessoas têm muito mais facilidade do que outras para desenvolver um físico impressionante, até hoje, ainda não conheci um praticante de musculação, que treinando de forma inteligente, não consegue obter nenhum resultado.
Assim, mesmo se você for um “hard gainer” e não responder bem ao treino com pesos, pode e irá ver resultados, desde que seja consistente e desde que continue a experimentar várias possibilidades de treino. É claro que o nível de adaptação é altamente influenciado pela genética, mas os bons métodos de treino irão ser sempre responsáveis por uma grande parte dos efeitos do treino.
A lição a aprender: A genética faz a diferença, mas o treino inteligente, dieta e sono/descanso adequado, podem ajudá-lo a maximizar o que seus pais lhe deram!